Mais um episódio na série de protestos que se instalaram recentemente no país, ocorreu desta vez na forma de ataque ao Instituto Royal, em São Roque SP. Os participantes justificaram o ato como repudio a supostos maus tratos sofridos por animais utilizados pelo laboratório. O desenrolar é conhecido: os ativistas inicialmente libertaram cerca de 200 cães da raça beagle e, com a mesma ousadia, semanas após mais 300 ratos. O laboratório se eximiu dos maus tratos e comprovou que atuava seguindo regulações existentes, atendendo aos requisitos dos órgãos administrativos, sanitários e de controle de experimentação em animais.
De forma atabalhoada e ilegal, parte engajada da sociedade brasileira se mostrou contra a utilização de animais em ensaios de laboratório. Não importou aos ativistas se esses ensaios em animais eram imprescindíveis para o desenvolvimento de medicamentos, para os quais não existem métodos alternativos que possam ser utilizados. Por mais avançado que seja o estado da arte dos testes alternativos, em âmbito mundial, a ciência ainda encontra limitações para proclamar que estes sejam capazes de substituir completamente, com 100% de correlação, os testes em animais.
A Sociedade Brasileira de Métodos Alternativos à Experimentação Animal (SBMAlt), através de manifesto à sociedade, assinado pelo diretor-presidente, Jadir Nunes, afirma que “o desafio de limitar ao mínimo possível ou até mesmo eliminar o uso de animais em alguns ramos da pesquisa científica foi lançado à ciência, em um bem-vindo contexto de crescente debate e reflexão”. O manifesto cita as limitações de diversas naturezas dos métodos alternativos, ponderando que “no entanto, a contribuição da tecnologia vem aperfeiçoando métodos substitutivos, de forma a torná-los cada vez mais eficientes, seguros e acessíveis, auxiliando inclusive na minimização do uso de animais”.
Na última edição da revista Cosmetics & Toiletries Brasil foi publicado o artigo “Ensaios toxicológicos alternativos aos ensaios em animais”, de Maria Inês Harris, no qual são abordados os métodos alternativos, disponíveis, aos ensaios em animais, destacando as razões, na opinião da autora, “que suportam o banimento da maior parte dos ensaios, na sua maioria injustificados à luz dos atuais desenvolvimentos tecnológicos”.
A autora justifica o uso de métodos alternativos dizendo que “os ensaios em animais não podem ser considerados perfeitos: pelo contrário, é sabido que não há 100% de correlação”. No artigo são citados diversos métodos alternativos disponíveis. Vários desses métodos, porém, ainda fazem uso de partes de seres vivos (excertos cirúrgicos e parte de animais oriundos de abatedouros).
Mesmo assim, as pressões pela adoção de métodos alternativos aos testes em animais se intensificam. Prova disso é a recente decisão da China Food and Drug Administration (CFDA) de revogar a exigência de testes em animais para avaliar a segurança de cosméticos de fabricação local.
Aparentemente, nos encontramos num impasse. Se por um lado ainda existem limitações científicas e econômicas para banir os testes em animais, por outro, há o posicionamento que os defendem.
Os avanços e as limitações científicas dos métodos tradicionais e alternativos precisam ser conhecidos pela população para que esta possa agir com mais racionalidade.
Hamilton dos Santos é Publisher da revista Cosmetics & Toiletries Brasilhttp://www.cosmeticsonline.com.br/
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