Presidente do CASIC avalia as atuais tendências do mercado de cosméticos na América Latina

Presidente do CASIC avalia as atuais tendências do mercado de cosméticos na América Latina
Carlos Berzunza, presidente do Conselho da Industria de Cosméticos, Cuidados pessoais e Domésticos da América Latina (CASIC).

Para trazer um panorama das transformações impulsionadas nos últimos anos e destacar as atuais diretrizes do mercado, incluindo os produtos que estão ganhando cada vez mais espaço, as regulamentações do setor e os investimentos futuros na América Latina, o in-cosmetics Connect entrevistou Carlos Berzunza, presidente do Conselho da Industria de Cosméticos, Cuidados pessoais e Domésticos da América Latina (CASIC).

O executivo fez uma análise do momento atual, destacando os principais movimentos observados pelo Conselho. Confira a conversa na íntegra:

1. Inovação e investimentos em tecnologia passaram a ser questões ainda mais estratégicas para o setor com tantas mudanças de mercado e de comportamento de consumo. O Casic observa que isso tem acontecido de maneira uniforme por toda a América Latina?

Carlos Berzunza (CB) – Claro que em alguns países em maior medida do que em outros, mas é uma tendência global e a região não fica muito atrás. Embora esta seja uma pergunta com respostas de vários pontos de vista.

A pandemia, por exemplo, foi um grande desafio para o setor, onde algumas empresas acharam necessário inovar e até modificar linhas de produção e canais de distribuição para atender a demanda da população e atingi-la em tempo hábil, como é o caso do crescimento do e-commerce na região.

Outra questão muito relevante é a tendência do consumidor em adquirir produtos naturais ou com ingredientes naturais, pois a América Latina é uma região emblemática nessa área, temos uma biodiversidade muito alta e já existem acordos em alguns países para poder acessar os recursos da biodiversidade para produzir ingredientes naturais, o que nos permite estar em constante inovação. Possivelmente, nos países onde esse tipo de acordo já existe, foi onde houve uma maior clareza nas regras do jogo e, consequentemente, maior investimento nesse tipo de inovação.

Além disso, deve-se levar em conta a política pública de atração de Investimento Estrangeiro Direto; não há dúvida de que as empresas deste e de outros setores priorizam a instalação de seus centros regionais de investimento, desenvolvimento e inovação em países onde há segurança jurídica, atração de investimentos e legislação tendente ao livre mercado, entre outros.

Por fim, estamos na era da informação, o consumidor tem acesso a uma grande quantidade de notícias que podem ser verdadeiras, mas outras também podem desinformar ou confundir. Por isso, nossa indústria está comprometida com a transparência para com a sociedade e, cada vez mais, entregar as informações sobre a formulação, uso e precauções do produto que entra no mercado, para garantir seu uso correto.

2. Pelo que o Conselho pôde observar até agora do ano de 2022, quais tendências devem ganhar força na região?

CB – A região está ligada a algumas das questões que mencionei na pergunta anterior, por exemplo, há tendências marcantes de transparência com o consumidor (comunicação de ingredientes, formulações, descarte de embalagens, comunicação por meio de relatórios de sustentabilidade, entre outros). Da mesma forma, há uma tendência de fortalecer os mecanismos e marcos regulatórios para promover a destinação adequada de recipientes e embalagens na região e utilizar tecnologias alternativas que possibilitem contribuir com questões de proteção ambiental.

É sem dúvida, uma mudança disruptiva na forma como os produtos cosméticos são comercializados, e temos um grande desafio para conseguir a adoção dessa inovação nos marcos regulatórios de alguns países da região.

Por fim, uma tendência importante em termos de canais de distribuição são as vendas de e-commerce, que foram impulsionadas no contexto da pandemia, onde também temos desafios significativos em termos de regulamentação para garantir a legalidade dos produtos vendidos nesses canais, bem como as informações que chegam ao consumidor para que ele possa tomar decisões de forma adequada.

3. Existe alguma questão regulatória em evidência atualmente? Qual e por que?

CB – A região está em constante dinamismo em busca de modernização regulatória. Por exemplo, a América Central está analisando os comentários recebidos por meio de consulta pública internacional junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), às propostas de atualização do Regulamento Técnico Centro-Americano (RTCA) de registro ou inscrição sanitária e de rotulagem. O Mercosul também está revisando a Resolução GMC nº 51/08 “Critérios e mecanismo para atualização das listagens MERCOSUL de substâncias em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes” e a Resolução GMC nº 07/05 “Classificação RTM de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes”, e na Comunidade Andina estão sendo concluídas as negociações sobre o Projeto de Regulamento Técnico Andino para Rotulagem de Produtos Cosméticos.

Por outro lado, acompanhamos a legislação sobre testes de produtos cosméticos e seus ingredientes científicos, sempre em linha com o desenvolvimento científico no mundo e levando em consideração as lições aprendidas de outras regiões.

Em todos esses casos, consideramos uma oportunidade a adoção das melhores práticas regulatórias internacionais, para que, como região da América Latina, alcancemos padrões harmonizados que facilitem o comércio sempre sob a salvaguarda da saúde pública.
Por exemplo, uma das propostas que fizemos como indústria em toda a região é a adoção automática de referências internacionais para ingredientes voltados para cosméticos, como as dos Estados Unidos e da Europa, o que facilita o comércio, promove a inovação e estabelece critérios a serem levados em consideração no processo de desenvolvimento seguro de produtos.

4. O Brasil inspira produção e modelos de negócios inovadores em outros pontos da América Latina?

CB – Vou continuar na linha do que comentei nas perguntas anteriores e, apesar de serem temas pouco discutidos, no CASIC acreditamos que avanços muito relevantes começaram a ser feitos em relação à bioeconomia, e o Brasil é um dos países de vanguarda no assunto. O uso de recursos naturais para integrá-los às cadeias produtivas, promovendo a proteção da floresta amazônica e de suas comunidades, é um exemplo claro.

Além disso, em termos de energia renovável, o Brasil lidera, seguido pelo México, que é o segundo país da região, onde se pode denotar o uso de recursos naturais para ampliar a oferta de energia limpa.

Por fim, o Brasil também foi um dos primeiros países da região a ter regras do jogo definidas e necessárias para a adoção de inovações e canais de distribuição, algo que, como indústria, esperamos que também sejam adotadas pelos demais países da região em breve.

5. No Brasil, o e-commerce ganhou espaço e tem ajudado o setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC) a manter os números positivos de comercialização. Como está o cenário para os demais países do Mercosul em 2022?

CB – Não só no Brasil, mas nos demais países da região, manteve-se o crescimento das vendas de e-commerce, apesar da flexibilização e liberação das restrições associadas à pandemia de COVID-19. Em 2021, o comércio eletrônico cresceu em todos os países. A Argentina, por exemplo, é um dos que mais cresce na região em termos de penetração do canal on-line. O que se pode projetar é que será uma ferramenta cada vez mais importante na América Latina.

6. O uso de ingredientes naturais também está em alta por aqui, motivado por políticas ambientais e também pelo perfil dos consumidores. Como as empresas de outros países da América Latina estão olhando para esse movimento?

CB – A bioeconomia, que é a produção de bens e serviços a partir da ciência, tecnologia e inovação com o uso de recursos naturais e biológicos, está avançando na região e, sem dúvida, também é uma tendência global. Embora esse termo ainda seja novo para nossos consumidores latino-americanos, a verdade é que as empresas já estão inovando em seus produtos à base de ingredientes naturais, o que trouxe muitos benefícios, como o fortalecimento das cadeias produtivas, o fortalecimento local, a restauração do solo e a vinculação de comunidades vulneráveis às estratégias de produção das empresas.

Os ingredientes naturais são muito valorizados pelos consumidores, e a indústria cosmética vem atendendo a demanda da população, cada vez mais crítica e com expectativas de ter produtos sustentáveis que gerem impactos positivos ao longo de seu ciclo de vida.

7. Na entrevista realizada com o CASIC no ano passado, abordamos a movimentação das empresas LATAM para atender o marco regulatório. Qual é o balanço do atual cenário? Houve alguma mudança ou novidade nos últimos meses?

CB – Durante o ano de 2021, as empresas passaram efetivamente por processos de adaptação para cumprir alguns marcos regulatórios atualizados desde anos anteriores, como a entrada em vigor da nova Decisão Andina 833 na CAN (Comunidade Andina de Nações – formada por Colômbia, Equador, Peru e Bolívia) – marco regulatório supranacional harmonizado para o setor nesses países.

Passada esta etapa de implementação dos marcos regulatórios que foram atualizados, estamos agora, conforme mencionado na resposta à pergunta 3, acompanhando os processos de negociação e preparando-nos para a futura adoção de outros marcos regulatórios que estão atualmente sob gestão na região e que ainda não entraram em vigor (RTCAs na América Central, GMCs no Mercosul, Regulamentação Andina entre outros).

8. Na ocasião, o senhor também mencionou que o Casic estava realizando una serie de webinars, treinamentos e seminários virtuais, inclusive um programa de formação com base nas agendas de Comércio, Sustentabilidade e Regulação Sanitária. Com a volta dos encontros presenciais, os eventos on-line continuarão sendo aliados do Casic e das empresas LATAM?

CB – Definitivamente. Sendo uma associação que reúne câmaras e empresas de toda a região, para nós a agenda virtual é um pilar fundamental anterior à pandemia, e poderíamos dizer que depois dela, fortaleceu-se ainda mais. Em 2021, realizamos 15 webinars sobre tendências e temas de interesse do setor, como sustentabilidade, regulamentação e comércio – com mais de 1.300 assinaturas e conexões em toda a América Latina. Além disso, no ano passado realizamos duas plenárias virtuais com a conexão e a participação de toda a indústria da região, associações irmãs em nível internacional e autoridades.

Em 2022 reativamos nossa Plenária Anual presencial e também continuaremos fortalecendo as capacidades de nosso setor por meio da realização de Webinars e treinamentos sobre temas atuais. Está claro para nós que os eventos on-line são aliados da indústria na América Latina.

Aproveito a oportunidade para informar que nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro teremos o prazer de sediar nossa 31ª Reunião Plenária presencial, que será realizada nesta ocasião em Buenos Aires, Argentina e marcará nosso primeiro encontro presencial desde 2019. Estamos muito entusiasmados em nos reunir novamente com os membros de nossas indústrias, da Câmara e empresas de toda a América Latina, pares internacionais como Cosmetics Europe, o Conselho de Produtos de Cuidados Pessoais dos Estados Unidos, Stanpa de Espanha, e a Associação Portuguesa AIC, entre outras, bem como Autoridades Comerciais e Reguladoras de toda a região.

9. Como o Conselho avalia a importância do retorno das feiras presenciais, como a in-cosmetics?

CB – Estamos caminhando para um futuro híbrido em que reuniões presenciais e virtuais poderão trazer o melhor de cada modelo. Acreditamos que as oportunidades de cenários presenciais também são fundamentais para relacionamentos, comunicação e capacitação. Uma reunião da indústria por ano, como a in-cosmetics, também permite que produtores e clientes se encontrem para fortalecer cadeias de valor e gerar oportunidades de negócios que levem a um maior crescimento da indústria na região. Por isso, consideramos de grande importância e acreditamos que também contribui para o bem-estar dos consumidores latino-americanos desses produtos.

 

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