Os óleos vegetais são substâncias lipídicas e apolares de natureza complexa. Devido às suas propriedades hidratantes, condicionantes, formadoras de película, lubrificantes e conferidoras de brilho, eles são amplamente empregados na indústria cosmética. Sua aplicabilidade é vasta, podendo ser utilizados em emulsões, sistemas anidros e de limpeza.
O que é um óleo?
O dicionário Priberam define óleo como:
“Substância gorda, líquida à temperatura ordinária e insolúvel na água, de origem vegetal, animal ou mineral, empregada em numerosos empregos (alimentares, domésticos, industriais, farmacêuticos, etc)”.
(Dicionário Priberam)
Sendo assim, já temos indícios do que caracteriza um óleo. Sua maior e mais lembrada característica talvez seja sua insolubilidade em água. Na cosmetologia esse conceito é muito comum, pois sempre que formulamos separamos a fase aquosa da oleosa e, quando queremos misturá-las para criar emulsões, adicionamos emulsionantes ao sistema.
Óleos também são líquidos, mas podem se tornar sólidos em temperaturas fora da ambiente comum, dependendo de suas características físico-químicas, e possuem várias fontes de origem: animal, vegetal, mineral, sintética…
Os tipos de óleos são variados e cada um pode apresentar função própria e diferentes indicações. Isso é importante na cosmetologia pois, para criar a formulação ideal, é necessário que se entenda e conheça o ingrediente com o qual se está trabalhando e respeite suas características.
Óleos vegetais
Os óleos vegetais são recorridos na cosmetologia por conta de sua classificação como emolientes. Os emolientes protegem a barreira epitelial e restauram a homeostase cutânea. Esses óleos são usados como emolientes, por conta de suas propriedades de hidratação e suavização da superfície cutânea.
São produzidos por plantas como fonte de energia, estando mais presentes em suas sementes e frutos. Sua composição é 95% de triglicerídeos. Os outros 5% são constituídos por diferentes substâncias, em diferentes proporções, como fosfolipídeos, glicolipídeos, sulfolipídeos, esfingolipídeos, ceras (fração saponificável) e hidrocarbonetos como esqualeno, pigmentos carotenóides e clorofílicos, vitamina E, fitoesteróis, polifenóis e álcoois triterpênicos (fração não saponificável, responsável pela ação anti-inflamatória e efeitos antioxidantes dos óleos). São oleosos, variando de viscosidade, mas nunca fluídos ao extremo. Possuem alta polaridade por conta de suas três ligações em éster.
A composição graxa dos óleos vegetais é classificada com a presença ou ausência de ligações duplas. Ácidos graxos saturados não possuem ligação dupla, ácidos graxos monoinsaturados possuem apenas uma ligação dupla e ácidos graxos poliinsaturados possuem mais de uma ligação dupla.
Os óleos vegetais alteram a reologia da formulação, como sua textura e seu sensorial, e também reduzem o cisalhamento. Têm sido cada vez mais empregados, principalmente como substitutos para os óleos minerais e animais. Esse crescimento acompanha a alta demanda por produtos mais naturais. São compostos quimicamente, em sua maior parte, por ácidos graxos (cadeias longas de hidrocarbonetos) com pelo menos sete carbonos e uma função carboxila em uma das extremidades, sendo que estes podem ser saturados ou insaturados.
Um de seus pontos mais positivos é sua alta eficácia na hidratação e baixo índice de efeitos colaterais (como irritação e alergias), além de seu custo relativamente baixo na maioria dos casos. Assim, cada vez mais os óleos vegetais são introduzidos no mercado.
Suas aplicações variam e ainda podem beneficiar diversos públicos. Desde bebês recém-nascidos, que possuem peles mais sensíveis, até auxiliares em tratamentos de pele para pacientes com eczema, os óleos vegetais são um investimento recorrente.
Entretanto, esses óleos costumam estar muito sujeitos à oxidação e alterações em sua coloração por conta da exposição à luz, ao oxigênio e ao calor. Isso ocorre devido ao seu grupo alquil ter ácidos graxos insaturados e ligações duplas propensas à oxidação (perda de elétrons). Aqueles que apresentam ácido láurico e/ou mirístico, que têm poucas cadeias de alquil, proporcionam um toque leve. Já aqueles ricos em ácidos graxos, como óleo oleico, dão uma sensação de hidratação.
Óleos refinados
Os óleos refinados são aqueles que passaram pelo processo de refino. Isso abrange três etapas: neutralização, clarificação e desodorização.
A neutralização remove os ácidos graxos livres e demais componentes como proteínas, ácidos oxidados, etc. Ocorre por meio da adição de solução aquosa contendo álcalis e como exemplos temos o hidróxido de sódio ou carbonato de cálcio, o que leva à saponificação dos óleos.
Depois, ocorre a clarificação. Seu objetivo, claro, é tornar os óleos mais claros. Utiliza-se adsorventes que podem ser misturados ao carvão ativado. Esses adsorventes têm sua eficácia melhorada quando o óleo neutro é lavado.
Por fim, temos a desodorização, que remove sabores e odores não desejáveis. Remove-se aldeídos, cetonas, ácidos graxos oxidados, produtos de decomposição de proteínas, carotenóides e esteróis, formados durante o armazenamento e processamento. Já quanto aos compostos naturalmente presentes nos óleos, remove-se hidrocarbonetos insaturados e ácidos graxos de cadeia curta e média. Também se retira ácidos graxos livres e peróxidos.
Óleos leves e pesados
Esses termos são mais comumente utilizados para se referir ao petróleo. As classificações “leve” e “pesado” designam a concentração do óleo que está sendo analisado: quanto mais fluido, mais leve, e quanto mais viscoso, mais pesado.
Óleos duros e moles
Esses são termos muito utilizados na saboaria. Óleos duros (saturados), basicamente, são aqueles sólidos à temperatura ambiente, como o óleo de coco e a manteiga de karité, gerando barras mais sólidas e diminuindo o tempo de desenformação para produtos anidros no geral. Os óleos moles (insaturados), por outro lado, são aqueles líquidos em temperatura ambiente, como os óleos vegetais que citamos anteriormente neste artigo. A solidificação de produtos que os contém acaba sendo mais demorada.
Os emolientes e umectantes são duas das classes cosméticas mais utilizadas no desenvolvimento de formulações e um requisito básico para diversos produtos de beleza e cuidado pessoal. Apesar da funcionalidade muitas vezes parecida, possuem grandes diferenças na prática, e entendê-las é essencial para se tornar um melhor formulador, e um profissional preparado para os desafios que podem surgir. Neste artigo iremos conhecer um pouco mais sobre essas classes e destrinchar suas funções, aplicações e importância no mundo da cosmetologia.
Emolientes
Emolientes são agentes utilizados para suavizar o estrato córneo, conferindo hidratação e suavidade. Eles evitam a perda de água e a ocorrência de descamações, melhorando as propriedades mecânicas da pele. A perda d’água é evitada com a formação de um filme oclusivo sob o meio epitelial, que reduz a evaporação natural que ocorre em nossos organismos. É a classe de ingredientes mais recorrida pela dermatologia para tratar doenças de pele por sua eficácia, grande adesão por parte dos tratados e baixo índice de “problemas cosméticos” (efeitos colaterais gerais que determinados ingredientes ou classes cosméticas podem causar), podendo ser encontrados em origens animais, vegetais e sintéticas. Seu emprego em formulações cosméticas, especialmente emulsões, facilita sua estabilidade e melhora o sensorial que o consumidor está propenso a ter.
Dentre as diversas vantagens dos emolientes, além destas citadas acima, estão as capacidades antioxidantes de alguns deles, seu baixo custo, sua grande aceitação por parte dos consumidores, sua boa espalhabilidade (que garante melhor aproveitamento e menor desperdício) e que alguns podem ser deixados sob a pele por determinado tempo (desde que haja outro produto para removê-lo posteriormente).
A grande dificuldade de se trabalhar com emolientes é sua degradação, muitas vezes denominada rancificação. Ela nada mais é do que alterações físico-químicas que podem ser aceleradas por catalisadores como altas temperaturas, por exemplo. Isso resulta na oxidação de óleos de gorduras, o que não é difícil de ser notado devido ao forte odor e aumento na viscosidade. Além de desagradável para os consumidores, efeitos tóxicos podem ser produzidos por essa oxidação.
Uso dos óleos vegetais em cosméticos
Óleos vegetais são muito utilizados em diversos produtos cosméticos, como loções, cremes, séruns, bastões e shampoos. Eles trazem vários benefícios para a pele, como suavidade, hidratação e condicionamento. Além disso, também são usados para fazer sabonetes através do processo de saponificação.
Esses óleos são populares na indústria cosmética devido aos efeitos positivos que têm no corpo. Quando aplicados, eles criam uma camada protetora na pele, reduzindo a perda de água. Isso mantém a pele hidratada e com uma aparência saudável. Além disso, certos ácidos graxos presentes nos óleos vegetais, como o ácido oleico, podem aumentar a absorção de outros componentes benéficos do óleo.
Outros compostos encontrados nesses óleos, como compostos fenólicos e tocoferóis, têm propriedades antioxidantes, que ajudam a proteger a pele contra danos causados pelos radicais livres. Eles também podem auxiliar em processos importantes para a pele, como a manutenção da barreira cutânea, redução da inflamação e aceleração da cicatrização.
Além disso, os óleos vegetais são também empregados em produtos capilares, criando uma camada sobre a superfície dos fios, o que fecha as cutículas e retém a umidade. Eles também funcionam como lubrificantes, tornando mais fácil desembaraçar os fios.
Óleos Vegetais Nobres na Cosmética
Os óleos vegetais nobres têm desempenhado um papel significativo na indústria cosmética, agregando valor aos produtos e proporcionando inúmeros benefícios para a pele e os cabelos. Esses preciosos ingredientes naturais são extraídos de plantas exóticas (ou menos comuns) e ricas em nutrientes, trazendo consigo uma série de propriedades vantajosas para o bem-estar e a beleza.
Uma das principais razões para o uso desses óleos em cremes, loções, shampoos e outros produtos cosméticos é sua capacidade de oferecer hidratação intensa e duradoura. Com alto teor de ácidos graxos e vitaminas, esses óleos ajudam a manter a pele e os cabelos nutridos e saudáveis, prevenindo o ressecamento e a perda de umidade.
Outro aspecto relevante é o poder antioxidante presente em muitos desses óleos. A ação antioxidante combate os radicais livres, que são responsáveis pelo envelhecimento precoce da pele. Dessa forma, o uso regular desses produtos cosméticos pode contribuir para proteger a pele dos danos causados pela exposição ao sol e ao ambiente poluído.
Além disso, a diversidade de óleos vegetais utilizados permite abordar diferentes necessidades e tipos de pele. Enquanto óleos como o de macadâmia e o de babaçu são leves e ideais para peles mais sensíveis e oleosas, óleos como o de baobá e o de pracaxi são excelentes opções para peles secas e cabelos danificados. Essa variedade possibilita uma ampla gama de produtos formulados para atender às necessidades específicas de cada indivíduo.
Não há uma nomenclatura específica para óleos e gorduras, sendo assim ambos são comumente denominados de acordo com a fonte de onde o produto foi extraído ou outro nome popular.
Alguns exemplos de óleos vegetais nobres utilizados em cosméticos são:
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- Óleo de Pracaxi: o óleo de Pracaxi é extraído das sementes da árvore Pentaclethra macroloba, originária da Amazônia. Utilizado historicamente por tribos indígenas para tratar problemas de pele e cicatrizes, esse óleo tem ganhado destaque na indústria cosmética devido às suas propriedades emolientes, hidratantes e anti-inflamatórias. É rico em ácido behênico, conhecido por sua capacidade de auxiliar na retenção da umidade da pele e dos cabelos, proporcionando uma hidratação profunda e duradoura.
- Óleo de Macadâmia: o óleo de macadâmia é extraído das nozes da árvore de macadâmia, nativa da Austrália. Por séculos, os povos indígenas da Austrália utilizaram o óleo de macadâmia por suas propriedades curativas e hidratantes. Com uma composição rica em ácidos graxos ômega-7 e ômega-9, antioxidantes e vitamina E, esse óleo é conhecido por sua capacidade de proteger e suavizar a pele, além de promover brilho e força aos cabelos. O óleo de macadâmia é rapidamente absorvido pela pele, sem deixar uma sensação gordurosa, e é altamente recomendado para melhorar a elasticidade e flexibilidade da pele, tornando-a um aliado poderoso no combate aos sinais de envelhecimento.
- Óleo de Buriti: o óleo de Buriti é proveniente da região Amazônica, sendo um poderoso aliado contra os danos causados pelos raios UV. É rico em ácidos graxos oleicos e possui alta concentração de carotenóides, principalmente vitamina A. Essas características fazem com que este óleo seja bastante utilizado em produtos cosméticos pós-sol e também protetores solares, além de cremes, loções e óleos de banho de uso diário.
- Óleo de Babaçu: extraído das palmeiras de babaçu, encontradas principalmente no Brasil, esse óleo é conhecido por suas propriedades emolientes e hidratantes. Sua textura leve e não oleosa faz dele uma excelente opção para hidratar a pele, deixando-a macia e suave. Além disso, o óleo de babaçu é rico em ácido láurico, podendo também ser utilizado em produtos para cabelos secos e fragilizados, proporcionando nutrição e brilho aos fios.
- Óleo de Groselha Negra: com origem na Europa e Ásia, o óleo de groselha negra é uma rica fonte de ácido graxo ômega-6 e vitamina C. Suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias são altamente valorizadas em produtos para cuidados com a pele madura ou sensível, pois auxiliam na redução de sinais de envelhecimento e no alívio de irritações cutâneas.
- Óleo de Baobá: proveniente da árvore baobá, nativa da África, esse óleo é um verdadeiro elixir para a pele. Rico em vitaminas A, D, E e F, além de ácidos graxos essenciais, o óleo de baobá proporciona hidratação profunda e auxilia na restauração da barreira cutânea. Ele é especialmente útil em produtos para peles secas e desidratadas, contribuindo para uma aparência mais saudável e luminosa.
EXEMPLOS DE ÓLEOS VEGETAIS NOBRES NA COSMETOLOGIA | ||||
NOME DO ÓLEO | INCI | FONTE | FUNÇÕES | |
Óleo de Pracaxi |
Pentaclethra Macroloba Seed Oil |
Semente do Pracaxi | Por ser rico em ácido behênico, proporciona uma hidratação profunda e duradoura tanto para pele quanto para os cabelos. | |
Óleo de Macadâmia |
Macadamia Ternifolia Seed Oil |
Noz de Macadâmia | Promove hidratação profunda e proteção da pele e dos cabelos, além de possuir propriedades regeneradoras. | |
Óleo de Buriti |
Mauritia Flexuosa Fruit Oil |
Polpa e semente do Buriti | Possui propriedades antioxidantes, pois possui uma alta concentração de carotenóides, como a vitamina A. | |
Óleo de Babaçu |
Orbignya Oleifera Seed Oil |
Semente do Babaçu | Por apresentar uma textura leve, é bastante utilizado em cosméticos com função hidratante porém com toque suave. | |
Óleo de Groselha Negra |
Ribes Nigrum Seed Oil |
Fruta da Groselha Negra | É muito utilizado em produtos cosméticos para peles maduras, pois possui grande propriedade antioxidante. | |
Óleo de Baobá |
Adansonia Digitata Seed Oil |
Sementes do Babobá | Por ser rico em vitaminas A, D, E e F e em ácidos graxos, proporciona ótima hidratação em peles secas e desidratadas. |
Conclusão
Óleos vegetais são substâncias naturais que têm afinidade com gordura e não se misturam com água. Eles têm uma composição complexa, contendo ácidos graxos, compostos fenólicos, triterpenos e outros elementos. Esses óleos são utilizados em cosméticos porque oferecem vantagens como lubrificação, hidratação e a capacidade de formar uma película protetora na pele.
Compostos por uma combinação única de nutrientes, ácidos graxos, vitaminas e antioxidantes, os óleos vegetais carregam propriedades distintas e valiosas, que possuem o potencial de nutrir, hidratar, rejuvenescer, proteger e revitalizar tanto a pele quanto os cabelos, contribuindo para uma aparência saudável e radiante.
Em suma, seus benefícios hidratantes, antioxidantes e nutritivos, aliados à sua origem sustentável, tornam esses óleos uma escolha cada vez mais popular e valorizada por quem busca produtos de beleza eficazes e conscientes.
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