Entrevista: Ebrac explica como terceiristas têm ganhado força com novos rumos do mercado HPPC

Entrevista: Ebrac explica como terceiristas têm ganhado força com novos rumos do mercado HPPC

O mercado de itens de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos tem passado por muitas mudanças, incluindo os formatos e custos de operação. Com a diversidade de marcas, novos planos de negócios, surgimento das indie brands, desenvolvimento de tecnologias e pesquisas, a atuação das chamadas terceiristas está ganhando espaço no país.

Para analisar o atual cenário, o in-cosmetics Connect conversou com Doraci Aleixo Maciel, sócio-proprietário da Empresa Brasileira de Cosméticos (Ebrac), uma terceirista (empresas contratadas para desenvolver produtos para as marcas) que faz parte da lista de novos expositores da in-cosmetics Latin America 2021. Na entrevista, o executivo falou de tendências sob o olhar de quem atende diversas pontas da cadeia de cosméticos. Confira:

in-cosmetics Connect (IC) – Como o crescimento das indie brands estimulou o trabalho das empresas terceiristas? Como você analisa esse cenário?

Doraci Aleixo Maciel (DAM) – Hoje, analisando o mercado existe um movimento das marcas por redução de custos que envolvem vários fatores, como ter um parque fabril, desenvolver estrutura para pesquisa e criação de novos produtos, grande número de colaboradores. Com o trabalho das terceiristas, as empresas contratantes podem dedicar mais tempo administrando e fortalecendo suas marcas, trabalhando em estratégias de vendas, o que diminui investimentos e possibilita o surgimento de novos negócios.

O nosso core business é desenvolver produtos e tecnologias e, diferente dos outros terceiristas, cuidamos e personalizamos o projeto para a marca, com a elaboração de identidade olfativa, suporte na criação da marca, contato com parceiros, criação de artes e até embalagens.

IC – Apesar das indies representarem 1% do mercado, elas estão se fortalecendo e registrando crescimento de 40% ao ano. Na sua opinião, o que tem favorecido esse crescimento acelerado? O que elas oferecem de diferente em relação às grandes do setor de HPPC?

DAM – Tem marcas fortes como a Payot, Polishop, a Barba Forte que trabalham com a Ebrac e não têm todo o ônus de ter uma fábrica. Com isso, elas dedicam mais tempo às vendas, dispõem recursos para se fortalecerem no mercado com propagandas e os resultados são melhores. A mesma lógica acontece com as indie brands.

Com aumento acelerado da compra de produtos pelo e-commerce, muitas empresas estão apostando em formas diferentes de comunicarem produtos e valores. Esses são os diferenciais. Esse movimento ou formato de negócio tem ajudado bastante no crescimento do setor de cosméticos.

IC –  Mesmo diante de um ano fora da curva como foi 2020, o setor de HPPC fechou o ano com crescimento de 5,8%. Como você avalia o mercado brasileiro? O que, na sua opinião, motivou esse crescimento?

DAM – Eu recorro há uma frase: “podem faltar vários itens na residência, mas o produto de HPPC é difícil”. Os rituais de beleza e cuidados fazem parte do dia a dia do brasileiro, tanto que, mesmo diante da pandemia, as pessoas estão se cuidando mais, mesmo sem sair de casa.

IC –  Como foi esse período para a Ebrac? Quais soluções vocês encontraram para manter os negócios em alta (tanto em termos de produção como de tecnologia)?

DAM – Eu vim de escolas muito boas, Natura e Boticário, sempre criando novas tecnologias e pensando um pouco à frente (futuro). Aprendi que o Brasil sempre olha para o exterior e copia as referências e isso tem dado muito certo. Mesmo no passado, antes da pandemia, já tínhamos projetos de novos lançamentos, incluindo trazer novidades para o mercado nacional, como a linha de sérum, de tratamento facial com vitamina C, produtos nanotecnológicos. Atualmente, estamos direcionando a Ebrac mais para o segmento de dermo-cosméticos. Temos alcançado grandes players e também levado tecnologias para as pequenas e microempresas, o que têm trazido resultados expressivos.

IC – Dos três setores de atuação da Ebrac (perfumaria, maquiagem e cosméticos), em qual a empresa mais se destaca no mercado? Qual teve o maior crescimento?

DAM – Com certeza, o desenvolvimento de cosméticos. Posso citar parcerias como a Nanoestetic, que atua somente por e-commerce, que teve um grande volume de vendas com produtos para tratamento como sérum facial, tônico facial, água micelar.

A linha masculina também merece atenção. Está crescendo muito. Temos um cliente, a Barba Forte, que se tornou um dos maiores players do Brasil e hoje tem um portfólio com mais de 50 skus (produtos).

IC – Itens como sabonetes, shampoos e condicionadores seguiram no ano passado uma tendência de aumento já apontada em 2019. Como a mudança de hábitos observada no período de quarentena deve continuar impactando esses segmentos?

DAM Tendo como base nossas produções, são produtos que estão sendo solicitados, mas não com a mesma frequência de 2019. Houve uma retração no ano passado de shampoo, condicionadores. O primeiro semestre foi abaixo das expectativas. Já o segundo melhorou e recuperou as vendas. Neste ano, estamos observando uma nova retração. Costuma haver uma diminuição de pedidos nos meses de janeiro e fevereiro. Mas, isso não quer dizer que o consumidor deixa de comprar o desodorante, o shampoo, o condicionador, o shower gel. Em um balanço geral, esses produtos estão se mantendo, mas num ritmo menor que o de 2019.

IC – Quais setores da área de beleza e cuidados pessoais (cosméticos, perfumaria, maquiagem) prometem movimentar o mercado nos próximos anos?

DAM – Vejo com bons olhos o crescimento das linhas de maquiagem com tratamento. As pessoas procuram por multifuncionalidades nos produtos, mesmo que paguem mais caro. Quando há um novo conceito, uma nova tecnologia no mercado, por exemplo uma base tem ativos para tratamento, mas também oferece proteção e dá efeito imediato que ela precisa, traz maior curiosidade e satisfação  para o consumidor. Então, as pessoas preferem um produto que entregue todos esses benefícios do que comprar os itens fracionados. Por conta disso, nos próximos anos a maquiagem deve deslanchar. Perfumaria, acredito que se manterá estável.

IC – Com a alta do dólar, a tendência é que as empresas apostem em insumos nacionais e na produção brasileira local? Qual é o impacto disso para a Ebrac como empresa genuinamente brasileira e como ela pode aproveitar esse momento? Você acredita em aumento da exportação nacional?

DAM – O mercado está sofrendo com os impactos causados pela pandemia, pela variação cambial, aumento do frete, que resultam na diminuição da importação de insumos no país.

Em termos de qualidade, nós não conseguimos ainda fazer produtos de alta performance apenas com insumos nacionais. Então, a grande maioria dos insumos, principalmente os de tratamento facial e maquiagem são importados. Ainda não é possível possibilitar os mesmos resultados só com ativos brasileiros. O país infelizmente não é autossuficiente na geração de insumos e, apesar do cenário favorecer a exportação, as empresas não contam com incentivo à pesquisa para o desenvolvimento dos insumos nacionais.

IC – Como a Ebrac se insere hoje no mercado? E como ela estará daqui a dez anos?

DAM – Nosso plano de negócios é fortalecer o nome da Ebrac não só no Brasil, mas também no exterior. Hoje, temos clientes que atendem fora do país, outros que são de fora e passaram a fabricar conosco em território brasileiro. O objetivo é posicionar a Ebrac como a número um no segmento nacional, na terceirização de commodities, de dermo-cosméticos, trazendo inovação para as pequenas e microempresas. Temos um time com muito know-how na questão de pesquisas e desenvolvimento de tecnologias.

Estamos em fase de crescimento, a fábrica de São Paulo está sendo ampliada com inauguração em abril. Daqui dez anos, não posso mensurar o tamanho da empresa, por que para nós não importa ser grande, queremos ser referência naquilo que fazemos.

IC – Qual a sua expectativa para a primeira participação na in-cosmetics? Você pode adiantar um pouco do que a Ebrac apresentará no evento deste ano?

DAM – Estamos com alta expectativa. Queremos levar aquilo que já sabemos fazer em termos de pesquisa e inovação em cosméticos. Mostrar que a Ebrac é uma empresa em crescimento. Temos expectativa no retorno que a feira vai trazer, não só por conta de negócios, mas para estarmos próximos dos nossos clientes que costumam participar como expectadores e percebemos a satisfação deles em verem seus produtos e pensarem “aquele produto ali é meu e fiz com a Ebrac”. Sem contar que será um orgulho expor nosso trabalho com transparência para o mercado latino americano.

IC – No site, a Ebrac aponta ter o dna da inovação. Quais são as frentes operacionais neste sentido e como a sustentabilidade está presente nos processos de pesquisa, produção e fabricação de cosméticos da empresa?

DAM – Eu sempre falo que as pessoas costumam associar sustentabilidade com a natureza, com o verde. Na verdade, esta é uma parte da cadeia, o sentido é mais amplo. Para a Ebrac, o termo também está relacionado às parcerias, à geração de emprego, à contribuição para a manutenção e crescimento da cidade onde está instalada, no caso, Jarinu (SP) e Recife (PE). Enfim, envolve toda uma cadeia produtiva, incluindo valores da empresa.

IC – A Ebrac possui duas unidades fabris. Há planos para a abertura de mais unidades?

DAM – Temos um plano de negócios para a abertura de mais uma unidade entre final de 2021 e 2022 no estado de São Paulo, com foco somente em maquiagem. Estamos avaliando alguns lugares, não está definido. Só sabemos que será em alguma cidade do interior.


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