A demanda por produtos mais sustentáveis está em constante crescimento: de acordo com um estudo da Nielsen, 42% dos brasileiros modificaram seus hábitos de consumo para minimizar o impacto no meio ambiente. Entretanto, essa tendência não é recente.
Veganismo e comunidades
Desde 2014, observamos que as tendências de sustentabilidade estão se tornando hábitos de consumo consolidados, como a busca por produtos veganos. Uma rápida consulta à plataforma do Google Trends revela o aumento da relevância dos termos “vegano” e “vegetariano” a partir desse ano. Além disso, é possível notar uma mudança no comportamento do consumidor nas farmácias e supermercados, com mais pessoas lendo os rótulos e se preocupando com os produtos que utilizam em sua rotina.
Há 11 anos, o caso do Instituto Royal, envolvendo beagles em condições deploráveis, e o viral “Salve o Ralph” de 2021, uma animação que expõe os testes em animais em laboratórios de cosméticos, despertaram a atenção do consumidor. Mesmo aqueles que não aderiram ao veganismo estão sensibilizados e vigilantes. Por que continuar testando em animais quando existem tecnologias e métodos alternativos disponíveis? A pressão do público fez a roda do mercado mudar seu curso.
Fatores como a pandemia aceleraram essa preocupação e as redes sociais desempenharam um papel crucial na conscientização, democratizando o acesso à informação e dando voz ativa ao público. Como resultado, surgiram comunidades, grupos e influenciadores que promovem uma mudança que antes era adiada pela indústria tradicional. Diante dessa conscientização, o mercado começou a se movimentar mais rapidamente.
Analisando os impactos
Mas o que torna um cosmético sustentável? Não basta utilizar ingredientes inspirados na natureza. É necessário considerar toda a cadeia produtiva, incluindo a formulação, as embalagens, as responsabilidades socioambientais e a logística, desde o laboratório de P&D até a entrega ao cliente.
No Brasil, não há uma legislação específica para classificar um produto ou fórmula como natural, orgânico ou sustentável. No entanto, em escala internacional, existem iniciativas como o referencial europeu COSMOS e o padrão ISO 16128, que estabelecem critérios para definir um cosmético natural ou orgânico.
Além disso, existem movimentos e outros selos que avaliam o impacto socioambiental das empresas, considerando aspectos como equidade, bem-estar social e impacto na comunidade local, ou mesmo para embalagens, com selos que certificam a logística reversa de embalagens pós-consumo por meio da compensação ambiental.
Clean beauty como caminho possível
Diante da confusão do público em relação às categorizações de produtos como veganos, sustentáveis, naturais ou orgânicos, e dos altos custos e exigências das certificadoras, surgiu uma brecha no mercado conhecida como “clean beauty” ou “beleza limpa”.
Essa categoria de produtos promove o uso de matérias-primas consideradas menos nocivas e mais responsáveis, livres de toxinas e ingredientes controversos, incluindo alternativas de origem natural e permitindo também o uso de ingredientes sintéticos considerados seguros. Segundo dados da consultoria Statista divulgados pelo Valor Econômico, espera-se que esse mercado atinja um faturamento global de US$ 22 bilhões até 2024.
Diante desse potencial, grandes varejistas lançaram suas próprias interpretações desse movimento, como a Sephora, com o selo “Clean at Sephora”, iniciativa que começou nos Estados Unidos em 2018 e chegou ao Brasil em 2022, oferecendo uma seleção especial de marcas conscientes e sustentáveis.
Desafios da indústria
Para os desenvolvedores, atender a essa demanda crescente pode ser desafiador. Blanca Gallegos, farmacêutica e pesquisadora de cosméticos, destaca o custo como um dos principais obstáculos. “As matérias-primas orgânicas e naturais costumam ser mais caras. Mesmo que o público esteja disposto a pagar mais por produtos naturais, é um desafio desenvolver formulações tecnologicamente avançadas com desempenho invejável, estabilidade e preço competitivo em relação ao mercado“.
Nesse sentido, o grande desafio é equilibrar custos, democratizar fórmulas e atender às expectativas, especialmente das novas gerações, que valorizam a sustentabilidade sem abrir mão da eficácia.
Neste mercado em constante evolução, a responsabilidade principal recai sobre a indústria e a transparência das marcas na educação do público. Mais do que simplesmente oferecer produtos sustentáveis, é essencial agir com transparência e fornecer informações claras, facilitando assim a tomada de decisão consciente por parte dos consumidores.
Afinal, o poder está nas mãos dos clientes.
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