Sobre expectativa e realidade

A Dow Corning divulgará uma escala para quantificar o frizz nos cabelos. O site Accuweather oferece a previsão do tempo para os cabelos. Isso nos leva a pensar: se todos os produtos para os cabelos prometem acabar com ou controlar o frizz, isso significa assumir sem risco de errar que o controle do frizz é uma necessidade recorrente dos consumidores brasileiros.

No entanto, se essa necessidade é recorrente, é porque os produtos atualmente disponíveis não conseguem cumprir o que prometem. As perguntas então passam a ser: por que não? Como solucionar isso? 

E nesse exato ponto, iniciativas como a da empresa de silicones e do site de previsão do tempo são essenciais. É comum os consumidores personificarem os próprios cabelos e atribuir a eles características humanas como vontade própria e até um certo rancor com o hospedeiro. Em inglês diz-se que se trata de um “bad hair day”, no Brasil nós dizemos que o cabelo acordou de mau humor, que ele está de mal, que está com raiva ou que tem vontade. Declarações como “hoje meu cabelo não quer ficar no lugar” são muito comuns em conversas entre brasileiros. Principalmente entre duas mulheres, mas não necessariamente somente entre elas. 

Só que esse livre arbítrio dos cabelos tem mais explicações físicas do que sobrenaturais. Com o aumento da umidade relativa, a tendência é que as fibras capilares intumesçam e assim não ocupam mais o mesmo espaço no universo que antes. Isso seria ótimo, se esse novo espaço não fosse acima da cabeça, para os lados ou acontecesse principalmente nos dias mais importantes e decisivos do ano. Irônico, mas real. Uma sociedade tão apegada à estética como a nossa, não admite que estejamos nas ruas em público com um único fio fora do lugar. Sem volume, sem frizz. Não é à toa que apresentamos ao mundo o creme de pentear e escova progressiva – é claro que há mais fatores envolvidos e a nossa história cultural. 

Assim, já se sabe que para controlar o frizz, é necessário promover peso à fibra capilar e protege-la da interferência da umidade. Parece simples. E de fato algumas matérias-primas já foram desenvolvidas com esse intuito. No entanto, uma outra expectativa bem brasileira salta aos nossos olhos nesse momento: o natural. Cabelo tem que estar com aparência e toque naturais. Não pode parecer que se passou algum produto – ou o que alguns chamam de toque sintético. 

De fato, quase todos os produtos para os cabelos no Brasil prometem alguma melhoria relacionada ao frizz. E todas elas se pautam pelos testes de eficácia metrológicos, quantitativos. O grande entrave é que a principal forma de avaliação dos consumidores locais é subjetiva e qualitativa. E assim continuamos buscando a solução para o frizz e os consumidores continuam testando todos os produtos do mercado na eterna busca pelo anti frizz perfeito. E qual a graça da vida se não houver desafios? Se o desafio for dos grandes, a motivação é em dobro!

Gustavo Boaventura é o editor do blog Cosmética em Foco.
http://www.cosmeticaemfoco.com.br/

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