Luxo Parcelado

Nas últimas décadas, o mercado de produtos de luxo mudou sensivelmente, respondendo aos consumidores contemporâneos e às pressões do mercado competitivo do varejo. O setor passou a adotar estratégias promocionais para difundir e multiplicar as vendas de suas marcas. De um modo geral, o luxo deixou de ser exclusivo e um privilégio de poucos, mas ainda faz seus usuários se sentirem orgulhosos e especiais. As grandes marcas de luxo, hoje estão acessíveis a qualquer consumidor que queira pagar por elas. 
Trata-se de um fenômeno mundial de popularização do luxo (alguns autores chamam de democratização do luxo) que tem no crédito um porto seguro. No Brasil em especial, essa aproximação é ainda maior em virtude da possibilidade de parcelamento que os consumidores possuem. 

O site brasileiro da marca de luxo francesa Lancôme, por exemplo, oferece a possibilidade de parcelamento em 12 vezes sem juros nos cartões de crédito. Assim, o site fechou o ano de 2009 com um gasto médio de R$ 300,00 entre seus cinco mil compradores regulares. Faça as contas. 

Luxo? Para a classe C? Por que não? Com a demanda reprimida pelos anos sem poder consumir, o que os novos consumidores aspiram é a possibilidade de adquirir o que não podiam. Há um pouco mais de tempo o Brasil tem contato com uma classe de produtos conhecidos como masstige, que são produtos oferecidos no varejo (mass market), mas com requintes de prestígio (prestige). E assim, pelo menos no mercado de Hair Care – ainda o principal mercado nacional – os preços puderam subir a valores não imagináveis no início desse século. Quem, em 2002, imaginaria pagar mais de R$ 9,00 por um shampoo? Hoje é difícil não questionar a qualidade de quem venda abaixo disso – mas ainda assim compramos, pois somos experimentadores e pechincheiros natos. 

No Brasil ou não, o fato é que o setor cosmético se manteve de alguma forma no luxo exótico, do trabalho exclusivo, da singularidade do ingrediente e até na subversão do gosto comum. Exemplos disso são a oferta de produtos como os da marca inglesa Body Food que produz produtos com no mínimo 99% de ingredientes naturais, sem conservantes. Há também produtos com ouro, caviar, pó de pérola, alga negra, veneno de abelha e até secreção de caracol, oferecidos por marcas consagradas como Kérastase, Guerlain entre outras. 

Esqueça o preço! Luxo nada tem a ver com preços elevados. Isso é o conceito mais ultrapassado de luxo. Preços altos são mera consequência do conceito do produto, justificado na maioria dos casos pela presença de ingredientes únicos. 

Em resumo, o que podemos observar é que os cosméticos de luxo estão acessíveis aos consumidores que os desejem. E no Brasil esse acesso é ainda mais facilitado graças ao crédito e à possibilidade de parcelamento. Assim, a cada estação somos apresentados a mais e mais produtos com ingredientes muitas vezes inimagináveis em cosméticos que justifiquem uma ação única e revolucionária aos produtos. Se o produto for recomendado por dermatologistas, então, a aceitação é ainda maior.

Gustavo Boaventura é o editor do blog Cosmética em Foco.
http://www.cosmeticaemfoco.com.br/

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