Instabilidades em cosméticos: desafios no desenvolvimento de produtos

Instabilidades em cosméticos: desafios no desenvolvimento de produtos

O desenvolvimento e a manipulação de cosméticos são tarefas complexas, que exigem muitos cuidados e muita atenção por parte dos profissionais envolvidos. Formular cosméticos é uma tarefa complexa porque envolve diversos ingredientes que devem ser mantidos juntos sem que haja reação entre eles.

Além de evitar que haja uma reação entre os componentes, também é importante evitar reações entre os componentes e fatores do meio no qual o produto estará inserido – como o ar, a temperatura e até a embalagem de acondicionamento. Como se a preocupação com estes fatores já não fosse suficiente, é crucial também minimizar a interação dos componentes do produto com organismos vivos.

A maioria dos profissionais da área, ao invés de estudar as principais características das matérias-primas que irão compor um cosmético, acaba por focar suas preocupações apenas nas características do produto final.

A falta de informações sobre as matérias-primas definidas para o produto, e a escolha feita de forma inadequada, pode gerar reações indesejadas entre elas, o que acarreta mudanças drásticas no produto final.

As alterações indesejadas no produto final geralmente são conhecidas como instabilidades ou incompatibilidades em cosméticos.

Para aprender mais sobre as instabilidades em cosméticos, primeiro é preciso entender o que é a estabilidade.

A estabilidade pode ser resumida como a capacidade de uma formulação em manter suas características físicas, químicas, terapêuticas, toxicológicas e microbiológicas iguais às que a mesma apresentava no momento no qual foi produzida.

Isso quer dizer que um produto pode ser considerado estável por todo o período de tempo pelo qual manteve suas características iniciais.

Sabendo disso, podemos dizer que as alterações, ou seja, a ausência da estabilidade de um produto cosmético, pode ser devida tanto a fatores extrínsecos quanto a fatores intrínsecos à formulação.

Fatores que causam instabilidades em cosméticos

Os fatores extrínsecos são fatores externos, mas que mesmo assim são capazes de catalisar ou mesmo ocasionar reações indesejadas, sejam elas entre os próprios fatores e os componentes da fórmula ou gerando ambientes propícios à ocorrência de reações entre os ingredientes em si.

A temperatura é um fator extrínseco capaz de causar instabilidades em cosméticos. Isso ocorre porque para a maioria das moléculas, a velocidade de uma reação química aumenta mediante o aumento da temperatura. Isso faz com que muitas reações que demorariam certo tempo para ocorrer, ocorram de forma mais rápida. Portanto, no caso das matérias-primas que sofrem degradação mediante a altas temperaturas, uma abordagem prudente quanto ao uso seria, por exemplo, adicioná-las no produto apenas quando a temperatura do sistema estiver mais baixa (abaixo de 40ºC).

A luz, por sua vez, é outro fator extrínseco que ocasiona instabilidades em cosméticos, pois pode oferecer a energia de ativação necessária para determinadas reações de degradação que até então não ocorriam. Para evitar e minimizar os efeitos indesejados da luz, é interessante armazenar as matérias-primas e produtos sensíveis à luminosidade em recipientes opacos, que não permitem a entrada da luz.

O oxigênio também é um fator extrínseco que pode ocasionar reações de instabilidade. Isso ocorre porque este elemento é capaz de induzir a degradação de diversos compostos por meio das reações de oxidação. Esta degradação pode ser minimizada preenchendo o máximo possível o recipiente no qual se encontra a formulação, evitando assim espaços livres que poderiam ser preenchidos pelo oxigênio. Outra forma de evitar este processo é a adição de agente antioxidante na formulação, como o BHT, BHA ou mesmo a vitamina E.

A umidade, apesar de parecer inofensiva, quando não intencional também pode ocasionar reações de degradação, sejam elas devido à hidrólise ou à solubilização de compostos previamente sólidos. Trabalhar num ambiente seco e adicionar um absorvente de umidade à embalagem do produto podem ser ações efetivas para diminuir os efeitos prejudiciais da umidade.

O pH é um fator importante a ser levado em consideração quando estudamos as instabilidades em cosméticos. Isso ocorre porque muitas matérias-primas são sensíveis a determinadas faixas de pH, sendo que algumas requerem faixas específicas de pH para funcionarem corretamente, enquanto outras, caso o pH não esteja adequado, sofrem com a degradação. Por isso, é necessário conferir o pH necessário para cada matéria-prima da sua formulação, bem como o pH final do produto.

Já os fatores intrínsecos são aqueles referentes aos componentes da formulação em si. Logo, as instabilidades causadas pelos fatores intrínsecos são aquelas relacionadas às reações entre dois ou mais ingredientes de uma formulação.

Tipos de instabilidades

fatores que causam instabilidade
 

De acordo com a Farmacopeia Brasileira, existem cinco tipos principais de instabilidades em cosméticos: física, química, microbiológica, toxicológica e terapêutica.

A instabilidade física pode ser observada pela comparação das propriedades visuais e táteis de um produto em comparação com as características iniciais. Alguns exemplos de instabilidades físicas são: separação de fases (no caso das emulsões), floculação, coalescência, mudança de cor, mudança de viscosidade e reologia, mudança na textura, etc.

A melhor forma de prever este tipo de incompatibilidade em cosméticos é, ao escolher uma matéria-prima, investigar no seu material técnico todas as especificações limitantes ao seu uso, como solubilidade, incompatibilidades, etc.

A instabilidade física pode ser ocasionada por fatores intrínsecos (ou seja, os próprios ingredientes da formulação, que podem ser incompatíveis entre si) ou por fatores extrínsecos (como a temperatura, por exemplo).

Quando ocorre algum tipo de instabilidade entre os componentes, em alguns casos, esta pode ser detectada por alguma mudança na aparência da formulação. Por outro lado, as alterações químicas que possam surgir não são sempre tão evidentes e, muitas vezes, só se conseguem determinar através da análise química dos compostos.

As instabilidades químicas são referentes às reações que podem ocorrer nos ingredientes de uma formulação (sejam elas entre os próprios ingredientes da formulação, ou seja, os fatores intrínsecos, ou entre componentes da formulação e agentes extrínsecos). De acordo com a farmacopeia brasileira, para que um produto seja considerado estável em termos químicos, é necessário que ele tenha suas propriedades químicas e de potência de acordo com as declaradas no momento inicial do desenvolvimento do produto e, além disso, devem ser compatíveis com os limites pré-estabelecidos.

As instabilidades microbiológicas, por sua vez, são aquelas causadas pela ação dos microrganismos. Quando esta contaminação está em estágio avançado, ou seja, uma colonização por muitos microrganismos, é possível a observação visual deste efeito, pois muitas colônias de fungos, por exemplo, são visíveis a olho nu, como é o caso do bolor. Além disso, este tipo de incompatibilidade em cosméticos pode ser observado pela separação de fases, mudança na turbidez do produto, alterações no odor e na textura, etc.

Este tipo de incompatibilidade é causado quando uma formulação com ambiente propício ao desenvolvimento de microrganismos é formulada com quantidade insuficiente de conservantes, ou mesmo quando o conservante não age de forma efetiva contra os microrganismos presentes. Por isso é importante sempre conferir o espectro de proteção que o sistema conservante escolhido fornece, e, caso este não seja suficiente, é importante fazer associações entre dois ou mais conservantes até que a formulação se encontre estável em termos microbiológicos por um período aceitável de tempo.

Por fim, temos a instabilidade toxicológica. Este tipo de instabilidade ocorre quando há um aumento nas propriedades toxicológicas de um cosmético, que pode ocorrer devido às reações que podem ser ocasionadas no produto ou mesmo devido à perda da estabilidade microbiológica.

Após ler este artigo, espero que você tenha concluído que formular cosméticos é uma tarefa que exige constantes estudos e dedicação por parte dos formuladores, e que conhecer as matérias-primas envolvidas no processo auxilia muito na hora de evitar as principais instabilidades em cosméticos.

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O objetivo deste artigo é contribuir para a elevação do nível técnico de profissionais da área. Para qualquer orientação procure sempre um profissional habilitado como um dermatologista ou farmacêutico.

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Referências:

  • Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Farmacopeia Brasileira] Vol. 1. 5ª Edição. Brasília, 2010.
  • Pombal, R., Barata, P., Oliveira, R. [Estabilidade dos Medicamentos Manipulados] Revista da Faculdade de Ciências da Saúde, no 7, p. 330-341 (2010).

 

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